Fé, história e justiça social: Frei Nédio Pertile fala sobre os livros que eternizam o legado de Dom Orlando Dotti.

Formado em Filosofia, Teologia e doutor em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus (MG), Frei Nédio Pertile é capuchinho da Província dos Freis Capuchinhos do RS e atua atualmente como vigário paroquial em Ipê desde janeiro de 2023. Ele é um dos autores dos livros “Cor ad cor loquitur – O coração fala ao coração” que regista a Biografia e missão e os e Escritos e falas sobre fé, justiça social e cidadania de Dom Orlando Dotti. As obras tiveram lançamento em Antônio Prado no dia 29 de junho no Espaço Cultura, e em Ipê será no dia 6 de julho, às 15h, no Auditório do antigo Seminário com entrada gratuita. Confira a entrevista exclusiva com Frei Nédio
Frei Nédio, conte para nós como surgiu a ideia de escrever essas duas obras sobre Dom Orlando Dotti. A intenção era mesmo lançar dois volumes desde o início?
Nédio: Tudo começou em dezembro de 2020, quando Dom Silvio Guterres Dutra, bispo de Vacaria, me ligou pedindo que eu escrevesse algo sobre Dom Orlando. Ele me deu liberdade para montar uma equipe, e assim organizei um grupo com três pessoas que conheciam profundamente Dom Orlando: Padre Cláudio Prescendo, Cláudia Adriana Zamboni Rossi e Frei Vilson Dall’Agnol. O projeto foi crescendo, e percebemos que o conteúdo exigia dois volumes, dada a riqueza de sua trajetória e de seus escritos.
E como foi o processo de pesquisa para reunir informações e documentos sobre a vida e a missão de Dom Orlando? Ele contribuiu diretamente?
Nédio: Sim, Dom Orlando foi a nossa principal fonte. Ele nos concedeu 17 entrevistas e nos recebeu com generosidade em sua casa. Também pesquisamos em diversos arquivos: das cúrias diocesanas de Vacaria, Caçador e Barra, da Província dos Freis Capuchinhos, do Museu dos Capuchinhos e da FUNDEFAM, na Bahia. Foi um trabalho documental intenso. O primeiro volume tem 25 páginas apenas de referências.
O primeiro volume traz a biografia de Dom Orlando. Quais aspectos da trajetória dele o senhor destaca como mais marcantes para a Igreja e para a sociedade?
Nédio: Dom Orlando é uma figura abrangente. A biografia abarca desde suas origens familiares até seu atual período como bispo emérito. Ele teve uma atuação extensa em cinco grandes instituições: a família Dotti, a Província dos Freis Capuchinhos e as três dioceses onde atuou (Caçador, Barra e Vacaria). Sempre teve uma visão ampla, lucidez e forte compromisso com a dignidade humana.
E no campo social? Quais temas foram mais abordados?
Nédio: No segundo volume, reunimos escritos sobre justiça social, reforma agrária, cooperativismo, cidadania, economia solidária. Dom Orlando sempre uniu espiritualidade com engajamento social. Ele via na fé o ponto de partida para a promoção da dignidade humana.
Como foi feita a seleção dos textos no segundo volume?
Nédio: Organizamos os textos em dois eixos principais: serviço à Igreja e à sociedade. Nos escritos eclesiais, incluímos temas como catequese, planos pastorais, mensagens de Natal e Páscoa, vocações. Na parte social, tratamos de educação, comunicação, direitos humanos, justiça e paz. Também reunimos testemunhos de outras pessoas sobre Dom Orlando.
O senhor mencionou que Ipê foi escolhida como uma das cidades para o lançamento. Qual o significado dessa escolha?
Nédio: Dom Orlando estudou no Seminário de Ipê entre 1946 e 1948, viveu aqui como padre por cinco anos, ajudou a criar a Cooperativa Moinho São Jorge, atendeu a Capela Vila São Paulo e foi figura ativa na vida comunitária. Sua relação com Ipê é afetiva e simbólica. Aqui ele abençoou capelas, ajudou a construir estruturas do seminário e manteve laços com familiares e amigos.
Como o senhor espera que essas obras impactem os leitores, especialmente os jovens e a comunidade local?
Nédio: Esperamos que esse legado inspire as novas gerações. Dom Orlando é exemplo de esperança, coragem, lucidez e serviço. Alguém que olhou a Igreja e a sociedade com o coração, mas também com inteligência. Ele ensinou que fé e compromisso social caminham juntos.
Como o senhor avalia a importância do apoio das prefeituras nesse projeto?
Nédio: O apoio das prefeituras de Ipê, Vacaria e Antônio Prado foi fundamental. Não só para viabilizar os lançamentos, mas para reconhecer o valor histórico, social e cultural da obra. Dom Orlando deixou um legado de organização comunitária, espiritualidade e cidadania que precisa ser valorizado e transmitido.
