As falas de Platão, Aristóteles, Sócrates, Kant, entre outros grandes filósofos, ecoavam desde 1974 no sonho, hoje concretizado, de Olir Schiavenin: neste mês de agosto, aos 71 anos, ele colou grau no bacharelado em Filosofia na Universidade de Caxias do Sul. Agora oficialmente “amigo do saber”, como traduz a etimologia da palavra de origem grega que define a área que estudou, Schiavenin defende o aprendizado, a inovação e a tecnologia. “Mesmo com dificuldades, precisamos nos manter atualizados. O conhecimento e o estudo não ocupam espaço. Fazem bem, estimulam o cérebro, rejuvenescem, prolongam a vida das pessoas. Na medida em que você para, começa a regredir”, sustenta, já refletindo sobre a possibilidade de seguir se aprimorando em um mestrado, incentivado pelos professores.

O apreço pela área, ainda no seminário, que frequentou entre as cidades de Vila Flores, Veranópolis e Flores da Cunha, município em que hoje reside, resultou no início do curso superior, na UCS, em 1974. Depois de dois anos, e de uma troca de opção por Ciências Econômicas, que cursou por um período, precisou deixar os estudos ao retornar para o interior.

A partir dali, o hoje assessor parlamentar desenvolveu uma trajetória profissional que envolveu a atuação durante 36 anos na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores de Flores da Cunha e Nova Pádua, além da passagem por diferentes entidades de classe, e sua relação com a UCS seguiu através delas. A Filosofia se manteve na lembrança e nas leituras dos livros da biblioteca do irmão, também formado na área, e foi tomando nova importância neste momento de sua vida a partir do incentivo das filhas, Ariane e Ariela, ambas egressas da Universidade, e de sua esposa, Vera.

De quando iniciou os estudos na Filosofia, nos anos 70, interrompidos e retomados há cerca de dois anos e meio, Olir percebe as diferenças sociais. Antes, sem as tecnologias como o celular, a ida de ônibus para a Universidade se tornava uma algazarra, com muita troca de ideias. O novo cenário, embora diferenciado, superou positivamente suas expectativas, já que se sentiu em casa entre os colegas de hoje. “Foi uma experiência de muita valorização e respeito, bom relacionamento com os demais alunos, mais jovens, além de apoio dos professores”, resume.

“Depois de tanto tempo, e das transformações que a vida teve, concluir o Ensino Superior fez-me sentir realizado, feliz e satisfeito por ter cumprido mais essa etapa. Voltar a estudar aos 69 anos foi um desafio muito grande que exigiu força de vontade, perseverança, resiliência, entrosamento”, avalia, agradecendo pela vida, pela saúde e disposição. Voltando à Universidade poucos dias depois da solenidade de formatura, quando recebeu o diploma das mãos da filha Ariane, que é docente do curso de Farmácia da Instituição, Olir demonstrou saudades. “A experiência vale a pena, abre nossos horizontes, nos dá bagagem para discernir as coisas da vida”.

Orgulho e exemplo

Valorizando a conquista do pai, Ariane, que além de professora é graduada, pós-graduada, mestre e doutora pela Universidade de Caxias do Sul, revela a sensação de pertencimento da família em relação à Instituição. “Nos sentimos parte porque compartilhamos os mesmos valores, o olhar comunitário. Poder entregar o canudo para meu pai fez passar um filme pela minha cabeça. O sentimento é de orgulho pela trajetória, visto que sua geração enfrentou muitas dificuldades e mantém a mente aberta para o conhecimento, para se desafiar. Ele é uma inspiração para todos. Para a família, então, é um orgulho imenso.”

O coordenador do curso de Filosofia concorda, destacando a seriedade, o engajamento e o profundo interesse do hoje egresso pelas questões filosóficas, que o tornaram exemplo. “Sua presença nos lembra de que não há idade para ingressar ou permanecer na vida acadêmica. Ao contrário, sua experiência de vida se soma ao percurso universitário e mostra como a Filosofia pode ser um espaço de contínua formação, diálogo e crescimento pessoal. No ano em que o curso da UCS celebra seus 65 anos de existência, a presença do Olir entre nós é um belo presente: um testemunho vivo da importância dessa área do saber e do valor do aprendizado ao longo de toda a vida”, comemora.